samedi 9 mars 2019

Samba-enredo da Mangueira em homenagem a Marielle Franco

Je viens de voir, le 6 mars, à Madrid, Jean-Marie-Gustave Le Clézio. Interrogé sur l'importance de son indignation dans sa littérature, il rebondit illico sur la violence machiste contre les femmes : ce fut l'exemple immédiat qu'il trouva pour évoquer un sujet majeur heurtant sa conscience morale.
Puis, hier, 8 mars, j'ai été témoin d'une manifestation féministe. Elle était énorme, festive, bourrée d'humour, d'imagination, et fermement déterminée contre le patriarcat —associé au clergé, aux machos et aux patrons.

Cibeles, Madrid, le 8 mars vers 20h/ALBERTO CONDE

Mais je voudrais oublier pour un instant le français et le castillan, et avoir recours au portugais, au portugais de la Escola de Samba da Mangueira, comme hommage à la lutte des femmes à l'occasion de ce dernier 8 mars, vu d'ailleurs qu'on est dominés, plus que jamais, par l'innommable. Et profitons pour donner une nota dez especial para a Cacá Nascimento, pura delícia. Viva a Mangueira per semper (mesmo sabendo que o para sempre, sempre acaba), bem-vinda Cacá Nascimento, vamos là com a revisão da História ! 
"Brasil, chegou a vez de ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês... Brasil, meu nego, deixa eu te contar a história que a história não conta..."


O samba-enredo da escola de samba Estação Primeira de Mangueira para 2019 será em homenagem à Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro assassinada a tiros no dia 14 de março no Rio, junto com o motorista Anderson Gomes. A escolha ocorreu na madrugada deste domingo (14.out.2018) na quadra da escola, na zona norte do Rio de Janeiro. "História para ninar gente grande", o samba campeão da Mangueira (escola campeã do Carnaval 2019), é de autoria de Deivid Domênico, Tomaz Miranda, Mama, Marcio Bola, Ronie Oliveira e Danilo Firmino.
Brasil, chegou a vez
De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês
De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês...

Brasil, meu nego
Deixa eu te contar
A história que a história não conta
O avesso do mesmo lugar
Na luta é que a gente se encontra

Brasil, meu dengo
A Mangueira chegou
Com versos que o livro apagou
Desde 1500
Tem mais invasão do que descobrimento

Tem sangue retinto pisado

Atrás do herói emoldurado
Mulheres, tamoios, mulatos
Eu quero um país que não está no retrato
Brasil, o teu nome é Dandara (1)
E a tua cara é de cariri
Não veio do céu
Nem das mãos de Isabel, a liberdade
É um dragão no mar de Aracati


Salve os caboclos de Julho
Quem foi de aço nos anos de chumbo
Brasil, chegou a vez
De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês

Mangueira, tira a poeira dos porões
Ô, abre alas,
Pros teus heróis de barracões

Dos Brasis que se faz um país de Lecis, Jamelões
São verde e rosa as multidões
__________________
(1) Marcelo D'Salete écrit en annexe d'Angola Janga, son excellente et très documentée BD sur l'histoire de la résistance du Quilombo de Palmares (Éd. Veneta, 2017), à la page 422 :
(...), uma personagem feminina popular na narrativa oral sobre os mocambos da serra é Dandara. Uma líder importante na obra ficcional de Cacá Diegues, o filme Quilombo, de 1984. Entretanto, essa personagem não é mencionada pelos principais pesquisadores sobre os mocambos da Serra da Barriga (Edson Carneiro, Décio Freitas, Ivan Alves Filho, Flávio Gomes, etc.). Conforme registrado por Clóvis Moura no seu Dicionário da Escravidão Negra no Brasil, o vulgo Dandará aparece em nossa história apenas na figura de um sacerdote da Revolta dos Malês em 1835, cujo nome real era Elesbão do Carmo.

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